Pequenas doses de um composto metabólico reverteram processo de envelhecimento dos óvulos
NAD — Ilustração: American Chemical Society
Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, elevaram as taxas de fertilidade em fêmeas de ratos mais velhas com pequenas doses de um composto metabólico na alimentação dos animais que reverteu o processo de envelhecimento dos óvulos. O resultado dá mais esperanças para algumas mulheres que lutam para engravidar. O estudo descobriu que este tratamento não invasivo poderia manter ou restaurar a qualidade e o número de óvulos e aliviar a maior barreira à gravidez para mulheres mais velhas.
A pesquisa, divulgada em julho deste ano, descobriu que a perda da qualidade dos óvulos por meio do envelhecimento se devia a níveis mais baixos de uma determinada molécula em células críticas para a geração de energia. Os pesquisadores começaram a investigar se o processo de envelhecimento reprodutivo poderia ser revertido por uma dose oral de um composto ‘precursor’ – utilizado pelas células para criar a molécula. Óvulos de qualidade são essenciais para o sucesso da gravidez porque fornecem praticamente todos os blocos de construção exigidos por um embrião. A molécula em questão é conhecida como dinucleótido de nicotinamida adenina (NAD) — que pode aumentar o nível da fertilidade — por meio de doses orais de um composto precursor denominado nicotinamida mononucleotídeo (NMN).
O estudo confirmou que a fertilidade começa a diminuir a partir de cerca de um ano de idade nas fêmeas de ratos devido a defeitos na qualidade dos óvulos semelhantes às mudanças observadas em óvulos humanos de mulheres mais velhas. E a má qualidade dos óvulos se tornou o maior desafio enfrentado pela fertilidade humana nos países desenvolvidos. Isso porque mais mulheres estão pensando em engravidar mais tarde. Uma em cada quatro mulheres na Austrália, país onde o estudo foi realizado, que se submetem ao tratamento de fertilização in vitro têm 40 anos ou mais, o que não difere muito do que ocorre em outras partes do mundo, como aqui no Brasil.
Atualmente, o processo entre uma doadora e uma receptora é feito por meio da fertilização in vitro. A doadora passa por um processo de indução da ovulação. Paralelamente, a receptora recebe hormônios que preparam o endométrio para aceitar os embriões. Enquanto os óvulos se desenvolvem na doadora, o endométrio da receptora fica mais espesso a cada dia. Quando os óvulos da doadora forem aspirados, parte deles será encaminhada para a receptora e fertilizados com o sêmen do próprio marido. A seguir, os embriões são transferidos para a paciente.
Porém, a FIV não pode melhorar a qualidade dos óvulos das pacientes mais velhas. As descobertas da pesquisa australiana, no entanto, sugerem que há uma oportunidade de restaurar a qualidade dos óvulos e, por sua vez, a função reprodutiva feminina usando a administração oral de agentes de fomento da fertilização in vitro – que seria muito menos invasivo do que a FIV em si.
“Já utilizamos o NAD nos procedimentos feitos na clínica do IPGO. Esta pesquisa é mais uma prova que o dinucleótido de nicotinamida adenina pode ajudar a preservar a fertilidade e fazer com que o tratamento em pacientes com idade mais avançada seja um sucesso. O NAD foi além da promessa. É algo que vale a pena investir, como estamos fazendo, e este estudo australiano veio para corroborar que estamos no caminho certo”, afirma Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia com certificado de atuação na área de reprodução assistida e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.
Fonte: in the press comunicação – Cármen Guaresemin