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Expectativa x realidade: por que não devemos romantizar a maternidade?

O conceito de maternidade real se opõe a outro: o da maternidade ideal, heróica e romantizada.

“Muitas famílias, quando têm filhos, se deparam com uma realidade completamente diferente daquela que esperavam”, explica a psicóloga Maria Fernanda Nogueira Ceccato, pós-graduada em psicanálise, parentalidade e perinatalidade pelo Instituto Gerar, em São Paulo (SP).

“A maternidade real busca trazer à tona o que realmente acontece quando chega um filho em nossas vidas. O objetivo é que as famílias não se sintam sozinhas ou deslocadas, como se algo errado estivesse acontecendo”, acrescenta.

Por questões históricas, a figura da mãe, mais do que um ser humano como outro qualquer, ainda é associada à imagem de uma santa, um ser sagrado, que ama a maternidade 24 horas por dia e, nela, se realiza plenamente.

Até o amor materno, prossegue Maria Fernanda, é romantizado. Vende-se a ideia de que é algo inato, “de fábrica”, por assim dizer, quando, na verdade, precisa ser construído no dia a dia.

“É por isso que não gosto da expressão: ‘Nasce um filho, nasce uma mãe’. A mãe pode demorar um tempinho para ‘nascer’, para se reconhecer como mãe”, pondera a psicóloga. “Isso pode também nunca acontecer.”

Maternidade sem filtro

O lado B da maternidade continua a ser debatido em sites, blogs e fóruns virtuais. Mas, aos poucos, começa a ganhar espaço também nas telas de cinema, nas peças de teatro, nas tirinhas de humor, nos comerciais de TV…

O filme Mar de Dentro, escrito e dirigido por Dainara Toffoli, não chega a ser autobiográfico, mas surgiu da experiência da cineasta com a maternidade. Ela e a irmã, Tatiana, cresceram ouvindo da mãe: “Não se casem, nem engravidem antes dos 30. Aproveitem a vida”.

Quando seus pais morreram, Dainara sentiu vontade de ter filhos. Mas, tinha medo da vulnerabilidade profissional que a maternidade poderia trazer. Afinal, cansou de ver mulheres mudarem de carreira ou perderem seus empregos após engravidarem.

“Na época, eu dirigia comerciais para TV. Sempre filmei muito, mas, assim que a barriga começou a aparecer, fiquei sem trabalho. Foi uma sensação horrível. Comecei a me sentir inútil e deprimida”, relata Dainara, que só voltou a filmar depois que o filho, Bernardo, hoje com 16 anos, completou cinco meses.

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No longa-metragem, Mônica Iozzi interpreta a publicitária Manuela, uma mãe solo que, depois de uma gravidez não planejada com um colega de trabalho, tem que lidar, entre outros apuros, com as dores do pós-parto.

Na vida real, Dainara conta que entrou na maternidade com um bico de silicone escondido na mala. Quando a enfermeira saía do quarto, ela colocava o bico e amamentava o filho. Dica da irmã, que já tinha a Lara quando Dainara engravidou.

“Tive muitos problemas, mas não cheguei a sangrar. Depois de 30 dias, tirei o bico e deu tudo certo. Amamentei até os nove meses”, recorda a cineasta.

Indagada sobre a pior parte da maternidade, Dainara não pensa duas vezes: “Achar que todas as responsabilidades são nossas e que, não importam as circunstâncias, temos que dar conta de tudo”.

Hoje, além de Bernardo, Dainara tem mais dois filhos: os enteados Carl e Luca, de 25 e 27 anos.

Rede de apoio

Rede de apoio é fundamental. Neste caso, é da criança e não da mãe. Naturalmente a criança que precisa e recebe muito apoio, parte dele é possível que a mãe dê. No entanto, não é só a criança que ganha, mas a família toda.

Qualquer família precisa de uma rede de apoio. Presencial ou virtual, não importa. É saber que tem com quem falar e acionar, quando preciso. Podem ser vizinhos, amigos, profissionais da saúde, alguém que possa confiar.

Fonte: BBC News Brasil

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