Estudo mostra que oócitos de mulheres obesas têm concentrações mais baixas de ácidos graxos ômega-3
Pesquisa sugere que além de diminuir chances de gravidez, problema pode causar obesidade infantil
Figura: Marta Cuesta/Pixabay
Pesquisadores da Universidade do País Basco (UPV/EHU), do Hospital Universitário Cruces, da IVI Clinic Bilbao e Biocruces Bizkaia descobriram que os oócitos – óvulos imaturos – de mulheres obesas e com sobrepeso têm concentrações mais baixas de ácidos graxos ômega-3. Um estudo da composição lipídica de 922 óvulos obtidos durante o tratamento de fertilização in vitro de 205 mulheres de constituição normal e com sobrepeso ou obesidade descobriu que os oócitos de mulheres obesas e com sobrepeso têm uma composição lipídica muito diferente; o estudo foi conduzido por Roberto Matorras-Weinig, professor da Faculdade de Medicina e Enfermagem da UPV/EHU, e publicado na revista Fertility and Sterility.
Os ácidos graxos ômega-3 são essenciais na dieta humana, ou seja, devem ser ingeridos porque o corpo não consegue sintetizá-los. A ingestão deles tende a ser baixa na dieta ocidental. Além disso, como os pesquisadores apontam que os ácidos graxos ômega-3 competem metabolicamente com os ômega-6, e a ingestão deste tende a ser muito alta no oeste dieta. Portanto, a alta ingestão de ácidos graxos ômega-6 contribui para os baixos níveis de ômega-3. Presumivelmente este é o mecanismo responsável por seus baixos níveis nos óvulos.
A obesidade infantil pode aparecer antes da concepção
A obesidade é um conhecido problema de saúde pública com inúmeras repercussões em diversos órgãos. Uma de suas implicações na gravidez é o nascimento de bebês macrossômicos (com alto peso), e o subsequente risco de obesidade infantil e adulta. Até agora, isso tinha sido atribuído ao efeito da obesidade materna durante a gravidez, bem como a inadequadas dietas na infância, mas esses achados levantam a possibilidade de que os problemas dessas crianças possam começar antes mesmo da concepção, devido à menor composição lipídica dos óvulos que os geraram.
Em outra frente, os pesquisadores acrescentaram que pacientes obesas tendem a ter resultados piores de fertilização in vitro, o que foi atribuído a uma ampla gama de motivos. Esta descoberta destaca outra possível causa para esses piores resultados.
Dieta Mediterrânea
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“Obesidade pode estar ainda associada à Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), caracterizada por um desequilíbrio hormonal, aumento dos hormônios masculinizantes e resistência à insulina. As mulheres com SOP têm aumento de pelos, irregularidade menstrual e anovulação. A obesidade também dificulta os tratamentos de reprodução assistida de diversas formas, por exemplo, a absorção pela via subcutânea, principal via de utilização dos medicamentos estimuladores dos ovários, pode ser prejudicada. Há necessidade de um processo de estimulação mais agressivo com doses mais elevadas dos medicamentos e em geral com mais dias de medicação. Há maior chance de uma má resposta à estimulação ovariana”, afirma Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia com certificado de atuação na área de reprodução assistida e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
Cambiaghi ressalta que, segundo pesquisa realizada pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM – American Society for Reproductive Medicine), o consumo regular de uma dieta com as mesmas características da Dieta Mediterrânea é capaz de elevar as concentrações de nutrientes importantes para o funcionamento do sistema reprodutor, mais especificamente de vitaminas do complexo B e nutrientes antioxidantes, aumentando as chances de fertilidade.
“Uma dieta com grande quantidade de pescados, de preferência ricos em gorduras essenciais, como ácidos graxos ômega-3 (como salmão de água fria, atum, sardinha, arenque, cavalinha e meca), óleos vegetais de boa qualidade (canola, oliva, algodão ou girassol) e reduzida ingestão de carboidratos refinados, como pães, massas e farinha branca, pode aumentar suas chances de engravidar e de garantir uma gestação saudável do início ao fim’, finaliza o médico, que é autor do livro Fertilidade e Alimentação, que pode ser lido gratuitamente acessando:https://dietadafertilidade.com.br/.
Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.
Fonte: in the press comunicação : Cármen Guaresemin